Materiais para construção sobem até 150% no Estado e setor teme estagnação

O metro quadrado da construção civil em Mato Grosso do Sul custa R$ 1.192,43, segundo o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi).

Em 2020, o custo ficou 6,68 % maior no Estado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Representantes do setor apontam que o que mais tem pesado no orçamento, tanto dos construtores quanto do consumidor de uma forma geral, são os materiais para construir.

Segundo a Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), os insumos sofreram reajustes que vão de 40% no cimento a 150% nos fios de cobre.

A reclamação nos custos vem se arrastando desde o início da pandemia, e a situação passou de preocupante para gravíssima na avaliação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

O presidente da Acomasul, Adão Castilho, explica que houve desabastecimento na cadeia da construção, o que gerou falta de alguns itens e aumento nos valores de outros.

“O material continua alto e reajustando, não houve estabilidade nos preços porque a demanda continua em alta e a oferta em baixa. Há uma reclamação das indústrias de que esse aumento é por causa da paralisação [da produção] durante a pandemia. Que tiveram que reativar setores e também pela alta do dólar e aumento das exportações. O mercado interno está com a demanda bem aquecida, mas a oferta está baixa”, detalha.

Ainda de acordo com o representante da associação, apesar das justificativas da indústria, alguns fornecedores aproveitam do momento.

“Nada justifica esse aumento absurdo que está tendo. Eu vejo como um aumento abusivo. Os fios de cobre subiram 150%, o cimento e aço em torno de 40%; houve mais de 100% de reajuste nos tijolos para a venda nos depósitos e nas indústrias de cerâmicas em mais de 50%.

A parte de hidráulica, como tubos e conexões, mais de 70% e as telhas tiveram reajuste de 120%. Então, de uma forma geral, o material básico está muito alto”, afirma Castilho.

Crescimento

As projeções para 2021 na construção civil trazem o maior crescimento para o setor em oito anos.

Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento deve avançar 4% no próximo ano, depois de recuar 2,8% em 2020.

Os dados foram apresentados na semana passada, quando a Cbic apresentou um balanço do segmento em coletiva virtual.

Na ocasião, o presidente da entidade, José Carlos Martins, afirmou já ter alertado o ministro da Economia, Paulo Guedes, que o problema do aumento de preços dos insumos se tornou “gravíssimo”.

“Falei para o ministro Paulo Guedes que o problema anteriormente era grave, agora, transformou-se em gravíssimo esse aumento de preço”, contou Martins.

De acordo com o representante da entidade, que representa as associações e sindicatos de todo o País, o desafio da inflação dos insumos é o único potencial “inibidor” da expectativa do setor de avançar 4% em 2021.

A projeção de crescimento se dá pela posição do segmento, que vendeu mais imóveis em 2020, mas apresentou queda no volume de lançamentos.

“Nós temos de entregar [obras], estamos ‘vendidos’. Por isso consideramos que a grande ameaça para 2021 é o desabastecimento e o custo dos materiais. Como vamos ter de entregar, um acréscimo de custos pode ter um fardo muito grande nas empresas e nos contratos, com risco de judicialização”, afirmou o presidente da Cbic.

Retração

Em Mato Grosso do Sul, o ritmo das obras já sente a desaceleração. Segundo o presidente da Acomasul, há uma redução de 50% no número de obras em andamento.

“Estamos reduzindo as construções, porque não queremos repassar isso para quem vai comprar seu imóvel. O pequeno empresário compra aqui diretamente do depósito, do distribuidor local, enquanto o grande empresário compra diretamente da indústria. Estamos amargando esse valor absurdo dos materiais”, justifica Castilho e ainda completa.

“A mão de obra não teve aumento, porque se os preços estivessem em baixa teríamos condições de termos muitas obras em andamento, o que não está ocorrendo. Por conta da falta de materiais, os pequenos empresários reduziram em 50% as construções. Estamos executando imóveis que estavam em andamento e eles estão até 20% mais caros, mas não temos como repassar isso. Não conseguimos enxergar ainda o momento que esses preços vão cair. Porque eles só reduzirão quando a oferta for maior que a demanda.

E a demanda está alta, porque tivemos uma reação do mercado há alguns meses, quando as vendas cresceram e todos os construtores desengavetaram seus projetos”, concluiu o presidente da Acomasul.

O presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção (Sinduscon-MS), Amarildo Miranda Melo, disse em outubro, que a partir da falta de materiais e o aumento de preços das obras, tanto públicas quanto privadas, sofrem com a paralisação.

“Com a falta de materiais, temos um atraso na entrega dessa obra. No caso de obras públicas, por exemplo, isso pode acarretar em uma repactuação de contrato, já que o acertado visava um preço menor ou ainda no abandono dessa construção, que acaba em obra parada e em relicitação”, explica Melo.

Reformas também ficaram mais caras

Não são só os empresários que perceberam e sentiram o impacto no custo dos insumos da construção civil. Quem decidiu reformar ou começar alguma obra também percebeu a mudança no orçamento.

É o caso da professora aposentada Odete de Jesus Gomes Matheus, 65 anos. Ela conta que em janeiro iniciou uma grande reforma em sua residência e que inicialmente tudo ia bem.

“Quando iniciei a obra no dia 2 de janeiro de 2020 foi empolgante, pois material e mão de obra estavam com preços bons. Isso permitiu chegar a metade da obra. Mas logo apareceu a pandemia e tudo se transformou em aumentos abusivos tanto de materiais quanto de mão de obra. E também começou a faltar tijolos, ferro e até cimento e quando encontrava era o dobro do preço” relata.

Odete ainda explica que ferro e outros materiais subiram de 30% a 50%.

“A mão de obra subiu no mesmo nível [50%]. Os fios de cobre para iluminação quando comprei tinha subido 100% e ainda está na mesma situação de reajuste. Ficou tudo sem controle e cada um aumenta o tanto que quer.

Eu tinha uma previsão de gastos e simplesmente triplicou e não há nenhuma perspectiva de melhora, pois a insegurança é muito grande em todos aspectos e setores”, complementa a professora.