Vacinação contra a Covid-19 pode acelerar a recuperação econômica do Estado

O mercado financeiro tem reagido ao início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, e em Mato Grosso do Sul não é diferente.

Para os economistas, o avanço da vacinação deve impactar positivamente a aceleração da economia estadual. Entre os setores, agronegócio, comércio e serviços devem se destacar.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a vacinação dos primeiros grupos prioritários começam hoje em Mato Grosso do Sul.

Para os economistas, quanto mais célere a imunização, mais rapidamente a reação da economia deve acontecer.

O titular da secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, diz que com a imunização cria-se uma expectativa positiva de retomada.

“Lembrando que já caminhamos bem em 2020, mas a Covid-19 criou uma desorganização produtiva, resultando em aumento da inflação e da demanda por alguns produtos. A gente tem em 2021 um cenário, sob o ponto de vista do crescimento, que não era tão positivo, e exatamente a questão da vacinação traz essa perspectiva de uma redefinição desse papel”, analisa o secretário.

O doutor em economia e cientista de dados Michel Constantino acredita que a aceleração econômica do Estado será potencializada com a vacinação da população.

“O Estado vem se descolando da média nacional no cenário econômico, apresentando ótima recuperação em relação aos demais entes federados. Enquanto em alguns estados a expectativa de crescimento ainda é muito incerta, MS apresenta indicadores mais positivos, que podem ser potencializados com a vacina”.

Para o economista, o Estado deve registrar crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. “Nas minhas análises usando modelos de previsão baseados em inteligência artificial, a previsão de crescimento para 2021 do PIB de Mato Grosso do Sul é de 2,5%”, disse Constantino.

Já o levantamento realizado pelo Instituto Tendências Consultoria Integrada aponta crescimento de 2,7%.

“Se o País conseguir avançar mais rapidamente [na imunização], a gente vai ter uma revisão desses números no sentido positivo de crescimento no Estado. Além daquilo que já estamos pensando em crescer neste ano, você motiva em termos de cronograma.

A vacinação começa a restabelecer cronogramas e tomadas de decisão de investimentos mais de curto prazo e faz com que, obviamente, a gente tenha crescimento e geração de emprego”, comenta Verruck.

No País, conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia passou de alta de 3,41% para avanço de 3,45%.

Para 2022, o mercado manteve a previsão do PIB, de alta de 2,5%, como já estava há quatro semanas.

ANO PASSADO

A economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Fecomércio-MS (IPF-MS), Daniela Dias, diz que Mato Grosso do Sul já se destacou no ano passado com números “menos piores” do que os registrados em outros estados.

“A própria reação econômica durante a pandemia nos leva a crer que a gente tenha uma recuperação econômica mais efetiva durante este ano”, diz a economista, que ressalta que uma série de fatores levam a essa projeção.

“Em termos de crescimento de alguns segmentos, nós tivemos um destaque ainda mais positivo para o Estado. Pela própria vocação de MS e a dependência do agro, tivemos um comportamento diferente em relação a outras unidades federativas durante essa pandemia. Uma amenização de impactos mais significativa.

Pode ser que a gente venha com uma reação um pouco mais positiva, dependendo da vacinação e das medidas políticas a serem adotadas”, analisa Daniela.

Mato Grosso do Sul registrou números menos negativos que outras unidades da federação durante o último ano, que foi marcado pela pandemia.

A colheita foi recorde, com 21,9 milhões de toneladas de grãos colhidos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); as exportações superaram em 11% o montante negociado em 2019, saindo de US$ 5,217 bilhões em 2019 para US$ 5,808 bilhões em 2020; e ainda houve saldo positivo na geração de empregos, com 16.511 vagas formais criadas de janeiro a novembro.

Agronegócio, comércio, serviços e turismo devem se destacar em 2021

Para os especialistas, além do agronegócio, que já registrou números positivos em 2020, os setores de comércio, serviços e turismo têm perspectivas melhores de recuperação.

De acordo com os economistas, a melhora nas expectativas das pessoas e dos setores influencia positivamente.

“O impacto da vacinação é extremamente positivo sobre a questão da perspectiva, pois você muda a forma da expectativa. A economia tem muito isso, quando você muda a expectativa, você toma decisões, como encurtar os [prazos] de investimentos e não precisar esperar mais a sinalização da resolução da pandemia.

Porque agora trabalhamos com a perspectiva de que a pandemia será resolvida em médio prazo e, consequentemente, teremos o retorno de muitas atividades. Essa vacinação é positiva para a economia de Mato Grosso do Sul”, contextualiza o secretário Jaime Verruck.

Embora ainda na chamada “zona negativa”, a intenção de consumo da população vem aumentando, bem como a confiança dos empresários do comércio, que também já reagiu.

A economista do IPF-MS, Daniela Dias, explica que mais de 70% dos trabalhadores do Estado estão no comércio de bens e serviços, daí a importância da recuperação do setor.

“As pessoas são movidas por expectativas. A depender dessas expectativas, elas tomam decisões, seja comprar algo, fazer investimentos ou até mesmo contratar. Então, com o início da vacinação, podemos ter a melhora nessas expectativas e, consequentemente, na reação econômica.

Porque se as pessoas têm expectativas frustradas, em um cenário considerado instável, a gente pode ter o contrário, um avanço da crise. Agora se essas expectativas se confirmam do ponto de vista positivo, a gente pode ter, sim, uma reação positiva.

E em Mato Grosso do Sul haverá a intensificação, uma reação um pouco maior, pelo próprio comportamento que a gente observou durante a pandemia”, conclui Daniela.

De acordo com Constantino, o comércio e os serviços são os indicadores mais importantes, pois estão ligados com todos os tipos e tamanhos de empresas que compõe a economia das cidades e já apontam para um cenário de recuperação.

“As vendas do varejo em Mato Grosso do Sul já estão voltando a patamares do fim de 2019, quando tiveram seu maior crescimento pós-crise de 2016. Os serviços são ainda mais positivos, e o volume de serviços têm 60% do PIB de MS. Conforme os dados, temos um retorno forte depois de maio de 2020”, disse o doutor em Economia.

EMPREGOS

Em relação aos empregos formais, o economista aponta que a trajetória positiva de 2020 pode ser potencializada com a vacina, “pois algumas atividades econômicas voltam a contratar”.

O turismo foi um dos setores mais afetados com as medidas de distanciamento social. Segundo o economista, a maior recuperação pós-vacina deve ser registrada no setor.

“Esse é um setor econômico que precisa da vacina para atender sua capacidade, que está ociosa com as medidas de distanciamento. Mas mesmo com essa restrição, temos uma alta procura e a demanda está reprimida neste momento”, conclui Constantino.