Motoristas de aplicativo enxergam oportunidade e transformam carros em comércio

Durante a pandemia de Covid-19, motoristas de aplicativo viram a renda cair mais de 40%, segundo dados da Associação dos Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul (Applic-MS).

Para ampliar o rendimento, alguns trabalhadores enxergaram a oportunidade de comercializar produtos como doces, bebidas, cosméticos e até máscaras durante as corridas. A nova aptidão gera ganhos de até R$ 2,5 mil.

Segundo o presidente da Applic-MS, Paulo Pinheiro, os motoristas recuperaram 10% das corridas e, consequentemente, do faturamento, por isso é cada vez mais comum que comercializem produtos aproveitando os potenciais clientes.

“O movimento melhorou, sim, porque há alguns aplicativos oferecendo ganhos em dinheiro para novos cadastros de passageiros e até prêmios para os motoristas que atenderem mais chamadas. Hoje cresceu de uma maneira muito forte o comércio de produtos, inclusive de máscaras de proteção também, pois há muitos passageiros que acabam esquecendo, principalmente em bares, mercados e boates, por exemplo. Com isso, a classe lucra um pouquinho mais com a venda deste acessório hoje de suma importância”, destacou.

Pinheiro ainda ressalta que a opção é interessante para o motorista, pois, além de complementar a renda, ele fideliza mais clientes.

“Vale muito nesta época de pandemia o motorista ter ideias e oferecer serviços, com isso aumenta o leque e os passageiros até elogiam. Acreditamos que neste fim de ano será bom, com a chegada do Natal e do Ano-Novo e com as plataformas oferecendo promoções, o aumento será bem interessante”, considera.

Motoristas

O tempo de viagem do passageiro se tornou oportunidade de negócio. Edson Teixeira, 29 anos, é motorista de aplicativo há um ano e usa o tempo em que está trabalhando dirigindo para vender doces e bebidas artesanais para seus passageiros.

O motorista explica que começou a vender seus produtos nos últimos seis meses, quando pensou que era vantajoso, uma vez que não precisaria ir até o cliente.

“A ideia de vender doce veio a partir do pensamento de que eu não precisaria ir atrás do cliente, eles já estariam no meu carro e, graças a Deus, está dando certo”.

Edson diz que o segredo para vender é conduzir o momento com humor, gentileza, fazendo propaganda da qualidade do que está oferecendo, no entanto, ele explica que nem sempre as pessoas são receptivas.

Além de vendedor e motorista, Edson também é professor de Artes na Rede Municipal de Ensino. O motorista explica que o acúmulo de funções informais é cansativo, mas necessário.

“O acúmulo de funções deixa o nosso dia bastante cansativo, porque, além de trabalhar como motorista e comercializar esses produtos, no período oposto sou professor, é a maneira que tenho para complementar a renda e por isso é necessário o acúmulo de atividades”, explicou.

Segundo o trabalhador informal, sua média diária de corridas realizadas é de 15 a 25. Com a venda de doces, ele aumentou seus rendimentos em torno de R$ 1 mil a R$ 2,5 mil, dependendo do movimento.

Com a mesma atitude empreendedora, Guilherme Santos, 36 anos e motorista de aplicativo há um ano, também começou a ofertar durante suas viagens alguns produtos, como perfumes para seus clientes. “Eu já vendia produtos há mais de quatro anos, então pensei em começar a oferecer para os passageiros e deu super certo”.

Guilherme explica ainda que a abordagem para oferecer os produtos só acontece quando se tem abertura do passageiro, caso contrário, nada é feito.

Acúmulo

A economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, explica que as pessoas tendem a acumular funções em tempos de crise, seja para manter um padrão de vida, seja para melhorá-lo ou para se proteger de alguma adversidade financeira futura.

“Esse acúmulo de função significa que as pessoas estão tentando amenizar os impactos negativos da economia sobre a renda, buscando saídas para poder continuar com um mesmo padrão de vida, ou por segurança”, pontuou Daniela.

Ainda de acordo com a economista, é comum que essas modalidades informais ganhem força e permaneçam mesmo no pós-pandemia.

“Temos uma ligação dos aplicativos com o setor alimentício, o que leva as pessoas a se aventurarem nessas modalidades. O que deve prevalecer, porque é uma situação cômoda e tem a sua demanda de procura para ser atendida. Então, acredita-se que essa onda de empregos informais deve se manter, pois são como facilitadores para o consumidor e geram renda para pessoas que buscam complementar seus ganhos”, concluiu Daniela.

Informalidade

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), dos 1,17 milhão de trabalhadores ocupados no Estado no 3º trimestre do ano, 36,6% estão na economia informal, ou seja, não têm carteira assinada, não têm empresa ou microempresa e não são servidores públicos.

Em números absolutos, são 428 mil trabalhadores informais dois mil a menos do que os 430 mil do 2º trimestre deste ano. Quando comparado com outras unidades da Federação, Mato Grosso do Sul tem a 7ª menor taxa de informalidade.