A sessão ordinária na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) teve uma discussão intensa nesta quarta-feira (13). O tema do debate foi a retirada do livro “O Avesso da Pele” das escolas públicas do estado a mando do governador Eduardo Riedel (PSDB). Entre uma fala e outra, dois deputados que assinaram pedido para recolhimento do livro, assumiram que sequer leram a obra.
A discussão sobre o assunto durou um pouco mais de 40 minutos. Em plenária, o deputado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Pedro Kemp repudiou a ordem de recolhimento dos livros das escolas de Mato Grosso do Sul.
Em resposta ao repúdio de Kemp, os deputados Pedro Caravina e Zé Teixeira, ambos do PSDB e da base do governador Eduardo Riedel, pediram fala na tribuna. Os dois parlamentares, que assinaram documento oficial pedindo pela retirada da obra das escolas do estado, afirmaram não terem lido o livro.
No microfone, Caravina disse que se limitou a ler apenas duas das 100 páginas do livro do escritor Jeferson Tenório.
“Eu não li o livro, então não posso dizer sobre o conteúdo. […] Tenho que discordar com os termos descritos. Sem polemizar, mas pelo nível das palavras colocadas ali para os alunos do ensino médio, não podemos estimular Não é livro pra ser disponibilizado pelo Ministério da Educação”, falou Caravina.
Antes do deputado Zé Teixeira assumir a fala, Pedro Kemp fala: “vou ouvir o senhor, mesmo não tendo lido o livro”. O tucano confirma em tribuna não ter se quer passado o olho sobre a obra de Jeferson Tenório.
“Eu vi o discurso de um deputado na assembleia legislativa de Goiás. […] Aquele livro não aceito para minhas crianças”, exclamou Zé Teixeira.
No discurso, Kemp afirmou ter passado o fim de semana lendo o livro, ganhador do prêmio Jabuti 2021, para entender do que se tratava a discussão e o teor literário da obra. Especialistas alertam que reação de retirar a obra das escolas foi equivocada.
“Se em algumas partes se fala palavrão é porque retrata o cotidiano. Não tem nada de erotização. Seria importante para a discussão do racismo estrutural na sociedade. A trama joga luz sob o racismo estrutural”, disse o deputado sobre a obra.
Já com os livros recolhidos das escolas de Mato Grosso do Sul, o Kemp sugeriu para que o Executivo doe os exemplares recolhidos.
Exemplares do livro “O avesso da pele”, do escritor Jeferson Tenório, foram recolhidos de 75 escolas públicas de Mato Grosso do Sul, após determinação do governador Eduardo Riedel (PSDB).
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (SED), a medida se dá em função da linguagem utilizada em trechos do livro que contém expressões consideradas impróprias para a faixa etária da maioria dos estudantes atendidos pela Rede Estadual de Ensino (REE).
No Paraná, os exemplares também estão sendo recolhidos de colégios estaduais que ofertam o Ensino Médio no Paraná. A determinação foi da Secretaria Estadual de Educação (Seed).
Pelas redes sociais, o escritor Jeferson Tenório classificou a medida da Seed como “uma violência e uma atitude inconstitucional”.
Segundo o autor, “não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura”.
A obra
A obra foi publicada em 2020 e narra a história de Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem policial.
O racismo é um dos temas abordados no livro, que venceu o Prêmio Jabuti em 2021, considerado o mais importante da literatura brasileira.
“O avesso da pele” integra o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), que compra e distribui livros didáticos para escolas públicas no Brasil.