Os 15 anos da segunda versão romântica e progressista de “Sinhá Moça”

Ao longo dos anos 2000, os “remakes” das obras de Benedito Ruy Barbosa se mostraram um porto-seguro do horário das seis da Globo. Sempre que a emissora precisava de um sucesso, recorria a um dos diversos títulos feitos pelo autor no passado para chamar a audiência.

Depois do êxito ao revisitar “Cabocla”, de 2004, a Globo reuniu novamente o diretor Ricardo Waddington e as filhas de Benedito, Edmara e Edilene, para mais uma empreitada indigesta: substituir a arrasa-quarteirão “Alma Gêmea” na faixa.

Sendo assim, munidas de elenco e história com todos os apelos populares possíveis, há exatos 15 anos foi ao ar a romântica e contundente “Sinhá Moça”.

“A primeira versão da novela estava completando 20 de exibição e achamos que era uma homenagem bem justa. Mexer em um sucesso é sempre um pouco mais complicado, pois o público cobra mais. Retiramos o que a gente achava que não fazia mais sentido. E, mesmo sendo uma novela de época, nosso olhar foi a partir das lutas contemporâneas”, ressalta Edmara.

Na trama, monarquistas e republicanos travam uma grande disputa política em Araruna, pequena cidade fictícia do interior de São Paulo. Em fatídico dia de 1886, a pequena Sinhá Moça tem dez anos de idade e está junto de Rafael, um escravo mestiço de olhos verdes e seu grande amigo de infância.

Eles testemunham a morte de um escravo idoso, chamado Pai José, participação especial de Milton Gonçalves, onde ele é chicoteado no tronco a mando do Barão de Araruna, pai da mocinha, papel de Osmar Prado. Mesmo muito jovem, Sinhá Moça já enfrenta os desmandos paternos e, com a ajuda do amigo, desamarra o escravo, que morre nos braços das duas crianças.

“A situação acaba por marcar profundamente a vida da Sinhá Moça. Dá a ela a dimensão de que aquela realidade tão diferente entre brancos e negros, ricos e pobres precisa de agentes de mudança. Além disso, a coloca em ponto de confronto com o próprio pai. É um texto lindo e que me deu muita segurança, chorei de verdade em muitas cenas”, analisa Débora Falabella que, depois de uma série de personagens de destaque, chegava ao posto de protagonista.

Na segunda parte da trama, a história avança quase uma década e Sinhá Moça é agora uma bela e culta donzela, que conseguiu se formar Professora com muito custo.

O pai gostaria que ela já estivesse casada e com filhos. Mas a mãe, a bondosa e justa Cândida, de Patrícia Pillar, sabe da importância da educação na vida de uma mulher e fez questão que a filha pudesse ter essa experiência.

Após muitos anos na cidade, a mocinha está no trem de volta a Araruana quando conhece Rodolfo, de Danton Mello. Ao se ver diante da filha do Barão, o rapaz tenta disfarçar que também tem ideias progressistas.

Apesar da mentira, ambos são tomados por um grande interesse mútuo que, aos poucos, reverberam em uma grande e proibida paixão.

“Eles vão se conhecendo e vendo que quase se perderam por uma bobagem. Além do amor romântico, é um casal que tem um propósito em comum, são amigos. Acho que isso deixou tudo diferente e mais realista”, analisa o ator.

O problema da dupla é que Rodolfo foi prometido, ainda na infância, para a misteriosa Ana do Véu, papel que deu o pontapé na carreira de Ísis Valverde.

“Eles nem se conheciam, mas para a Ana ou era casar com o Rodolfo ou virar freira. Passei quase a novela toda escondendo o rosto para surpreender o público. Foi um trabalho muito bonito e divertido”, relembra a atriz.

Com gravações iniciadas no final de 2005, em diversas fazendas do eixo Rio-São Paulo, “Sinhá Moça” ganhou uma bela e imensa cidade cenográfica nos Estúdios Globo. Em uma área de quase 10 mil m², construções coloniais e neoclássicas, dois estilos da época, foram iluminadas por lamparinas e castiçais.

O cuidado com a fotografia acabou criando um sistema especial de tochas a gás, que era montado no estúdio e recriava o ambiente sem luz elétrica.

“A gente queria criar os contrastes necessários para contar a história não só nos personagens, mas na imagem também”, conta Waddington.

A suntuosidade e o charme de uma novela de época ficaram ainda mais evidentes com os apoios tecnológicos importados pela direção, como o “base light”, que dava uma cara ainda mais viva e de cinema às imagens captadas em câmeras de alta definição.

Com elenco formado por nomes queridos por Benedito Ruy Barbosa, como Eriberto Leão, Vanessa Giácomo e Osmar Prado, “Sinha Moça” teve média geral de 33 pontos.

Não superou “Alma Gêmea”, mas mostrou que o poder de encantamento do texto de Benedito continuava intacto.