Arquiteto e cenógrafo, Bruno Atra investe na aquarela para compor quadros inspirados no muralismo

Os traços são feitos em aquarela, mas a inspiração para os desenhos – em sua maioria, retratos – está intimamente relacionada à arte de rua. “Hoje, ou por muitos anos, essa inspiração veio mais da arte urbana, tanto do ponto de vista da intervenção urbana como até um lance de fazer um link com a cenografia, como você entende o espaço público”, afirma o artista plástico, cenógrafo e arquiteto Bruno Atra, 34 anos.

Natural de São Paulo, mas morando em Campo Grande há três anos, Atra sempre teve uma relação próxima com a arte. Há pouco começou a produzir retratos que fogem do convencional e embarcam em misturas que tornam a obra única.

Apesar de desenhar em espaços pequenos, a inspiração do artista está no muralismo. “O grafite e o muralismo como um todo sempre me interessaram”, frisa. “Mas eu sempre levei, ou pelo menos por muito tempo levei, esse ofício como um lazer só, não profissionalmente. Sempre fui mais para o lado da arquitetura, da iluminação, e acabei me especializando em cenografia; tanto que eu trabalho como cenógrafo”, ressalta.

O trabalho como cenógrafo Atra desenvolveu principalmente no Rio de Janeiro, onde morou após finalizar a faculdade de Arquitetura em São Paulo. O terceiro estado da sua vida só surgiu após conhecer a esposa. “Eu sou de São Paulo, nasci lá, me formei em Arquitetura e vivi até os 25 anos na cidade. Depois morei cinco anos no Rio de Janeiro, casei com uma sul-mato-grossense de Dourados, nossa filha nasceu e nós viemos para Campo Grande meio que do zero. Eu estou aqui há três anos e venho dando sequência a essa produção de artes plásticas”, destaca.

No fim, as mudanças impulsionaram o trabalho com as artes plásticas. “Aqui em Campo Grande senti um pouco de dificuldade em seguir com a cenografia; não dificuldade, até consegui fazer algumas coisas, mas é um mercado diferente neste segmento. O eixo Rio-São Paulo acaba tendo mais ofertas para mim, mais procura. Mas, ao mesmo tempo, aqui estou conseguindo exercitar a arquitetura e essa parte da pintura com um pouco mais de dedicação”, conta.

O tempo que passa mais devagar em Campo Grande pode ser a resposta para essas transformações. “Acho que por uma condição de cidade, por me dar um pouco mais de tempo, de espaço, até para conseguir produzir. Antigamente eu tinha essa limitação, de ter um espaço legal para poder pintar, ter tempo para poder fazer, sempre estava em uma correria maior. Vir para Campo Grande tem me ajudado a conseguir manter uma produção um pouco mais constante. Estou encarando a arte mais como ofício e atividade profissional”, pontua.

Isso não significa que o artista tenha deixado de lado a cenografia. “Ainda faço, ainda me coloco como cenógrafo. Acaba que a cenografia dentro da arquitetura, eu acredito que é uma das formas mais próximas das artes plásticas; a arquitetura como um todo tem isso. Mas a cenografia, por ser mais rápido e efêmero, tem uma coisa que sempre me atraiu. Continuo atuando dessa forma”, frisa.

Para o artista, a diferença talvez seja o amadurecimento. “Na verdade, eu sempre gostei muito de desenhar. Eu acho que aqui que eu consegui amadurecer, tem mais a ver como a disciplina, com um rigor para isso e para essa produção. Hoje eu vejo como uma parte muito importante da produção, essa disciplina de estar sempre produzindo”, explica.

Além do trabalho como cenógrafo, arquiteto e nas telas pequenas, Atra também se aventura em paredes. “Cada mídia ou cada tamanho tem um desafio. A coisa de fazer em uma escala grande é desafiadora mas é muito legal, o trabalho ganha outra dimensão. Eu sempre tentei fazer, o legal é você se arriscar em diferentes formatos, desde algo pequenininho, hiperdetalhado, até poder soltar o corpo inteiro e fazer um desenho maior. Tem que estar sempre buscando um pouco de cada técnica para ir aprimorando”, acredita.