Deam fala sobre feminicidios ocorridos na capital nos últimos dias em coletiva de imprensa

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Campo Grande (Deam) realizou, na manhã desta sexta-feira (11), coletiva de imprensa para tratar dos últimos feminicidios ocorridos na capital no final do mês de novembro e início de dezembro.

Durante a coletiva, as delegadas responsáveis pelas investigações falaram dos casos que vitimaram Dulci da Silva Mendes de Campos, 80 anos, no último dia 30 de novembro e Fabiana Lopes dos Santos, 37 anos, morta na noite de 4 de dezembro, bem como sobre o aumento no número de casos de feminicídio no estado neste ano de 2020 em comparação aos anos anteriores.

Incêndio

Na noite de 30 de novembro, Dulci da Silva Mendes de Campos, uma mulher de 80 anos, foi morta e o responsável pelo crime teria sido seu marido, de 76 anos. A casa do casal pegou fogo e as investigações apontaram que o incêndio teria sido provocado. Segundo a delegada que presidiu as investigações, Maíra Pacheco Machado, a vítima havia solicitado medidas protetivas de urgência em face do marido, porém requereu sua revogação poucas semanas antes de sua morte.

O suspeito foi preso em flagrante e indiciado por homicídio qualificado pelo feminicídio e pelo emprego de asfixia. Segundo laudo pericial, a causa da morte teria sido asfixia pela inalação de gás ou fumaça. O suspeito teve a prisão preventiva decretada, porém está internado em estado grave na Santa Casa de Campo Grande.

 

Arma branca

Na última sexta-feira (4), Fabiana Lopes dos Santos foi morta com 19 facadas e o principal suspeito era seu companheiro. O homem, de 43 anos encontrado morto no início da semana, estava preso desde dezembro de 2018 após ter tirado a vida da mãe de Fabiana por não aceitar o fim do relacionamento com a filha da vítima.

O homem foi julgado e declarado inimputável – segundo o corpo de jurados, ele não tinha conhecimento do caráter ilícito do fato no momento em que praticou o crime em decorrência de problemas mentais.

Sentenciado a tratamento por meio de medida de segurança, o suspeito foi posto em liberdade no mês de setembro deste ano. Após ter sido solto, ele procurou novamente Fabiana e tiveram dois encontros, mas quando a vítima o informou que não tinha interesse em reatar o relacionamento, passou a ser perseguida e ameaçada. Fabiana registrou novo boletim de ocorrência, disse que não tinha a intenção de que ele fosse processado criminalmente, mas solicitou medidas protetivas.

Segundo a delegada que presidiu as investigações, Anne Karine Sanches Trevizan, o oficial de justiça procurou o suspeito na casa de seus pais para intimá-lo das medidas, mas ele não estava na residência. Seus genitores chegaram a cogitar não contar sobre a existência das medidas, mas para evitar que ele as descumprisse, o comunicou da proibição judicial na tarde do crime.

O homem teria procurado Fabiana na noite do crime na casa onde ela morava com os dois filhos menores do casal e, portando uma arma branca, teria a levado até o local dos fatos. A Deam representou por sua prisão preventiva, uma vez que ele estava foragido, mas o homem foi encontrado sem vida na última terça-feira, vítima de suicídio.

 

Números

Embora os dados relativos a crimes em contexto de violência doméstica tenham apresentado queda desde o início do ano, o número de feminicídios aumentou em relação aos anos anteriores.

Até a data de hoje, dia 11 de dezembro de 2020, 31 mulheres foram mortas em razão de sua condição de sexo feminino em todo o estado, ultrapassando os dados referentes a todo o ano de 2019, que contou com um total de 30 feminicídios em Mato Grosso do Sul.

A orientação para as mulheres que convivem com seus agressores é a procura pela delegacia de polícia para o registro de boletim de ocorrência e solicitação de medidas protetivas. Segundo a delegada adjunta da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Anne Karine Sanches Trevizan, das 11 vítimas de feminicídio na capital em 2020, apenas três possuíam medidas protetivas.

“É muito importante que toda mulher vítima de crime sexual ou violência doméstica procure uma delegacia de polícia para o registro do boletim de ocorrência”, ressaltou a delegada. “Ainda que a gente verifique que três vítimas possuíam medidas protetivas, talvez se as outras tivessem, elas não estariam mortas”, concluiu Anne Karine.

Apenas em novembro, a Deam registrou 678 boletins de ocorrência na capital, realizou 30 prisões em flagrantes e outras 15 em cumprimento de mandados de prisão. Somente no último mês, a Especializada atendeu 1025 pessoas. A Deam não parou o atendimento em nenhum momento durante a pandemia e reforça o compromisso na luta contra a violência de gênero.

Publicado por: Barbara Camargo Alves